Estudos efectuados demonstram que telefonar e conduzir ao mesmo tempo implica uma "carga mental" que prejudica a realização segura da tarefa da condução. Concretamente, o nosso cérebro não pode prestar a atenção necessária a duas tarefas diferentes realizadas simultaneamente. Telefonar é uma actividade cognitiva que requer a atenção do condutor, que fica, em situação de condução, confrontado com uma dupla tarefa e quanto mais complexa for a situação de trânsito mais a comunicação telefónica interfere no bom desempenho do condutor.
Vejamos as principais consequências que essa duplicação de actividades pode originar:
- Diminuição da capacidade de vigilância do condutor e dispersão da atenção. A atenção inerente ao interesse que o condutor dirige ao seu interlocutor telefónico suscita problemas de comportamentos desajustados às várias situações de trânsito com que se vai confrontando, pondo em causa a segurança rodoviária.
- Aumenta 4 vezes a probabilidade de acidente. Esta probabilidade aumenta para 6 durante os 5 primeiros minutos de conversação. Os utentes mais assíduos do telemóvel têm uma taxa de mortalidade rodoviária dupla da dos utilizadores ocasionais. Este risco mantém-se ainda alguns minutos depois da "chamada" ter terminado.
- Aumento, em cerca de 50%, do tempo de reacção, levando assim o condutor mais tempo a actuar perante uma dada situação de trânsito, podendo incorrer em perigo em situações de risco potencial.
- Má avaliação do posicionamento do veículo na via.
- Dificuldade de descodificação dos sinais e da sua memorização, perdendo, assim, informação essencial para uma condução segura. Frequentemente a sinalização é mesmo ignorada.
- Desrespeito da regra de cedência de passagem nos cruzamentos e entroncamentos.
- Não manutenção da distância de segurança em relação ao veículo da frente e incapacidade de ajustar esta distância quando o veículo da frente pára ou abranda, o que aumenta o risco de colisão.
- Dificuldade em retomar a fila por onde deve circular após uma ultrapassagem.
- Não sinalização da manobra de mudança de direcção, não dando assim a conhecer aos restantes utentes da via a sua intenção de efectuar a manobra.
- Má avaliação da velocidade. A maior parte dos condutores julga que reduz a velocidade quando atende o telefone, quando na realidade a mantém inalterável.
- Redução do campo visual. A conversa telefónica afecta as capacidades de exploração visual do condutor. Há modificações significativas da direcção do olhar durante e após a comunicação telefónica, em que é privilegiado o olhar a direito para a via, prejudicando a visão periférica e a informação visual recolhida através dos retrovisores. Tudo se passa como se a via se transformasse num écran sobre o qual se misturam ou alternam imagens reduzidas do ambiente rodoviário, da face do interlocutor e do objecto da conversa. Existe uma fixação do olhar durante a comunicação.
- Tendência para não parar nas passagens de peões a fim de lhes permitir atravessar a faixa de rodagem com mais segurança. Cerca de ¾ dos condutores ao telefone não cumprem esta regra do Código da Estrada. Frequentemente os condutores nesta situação não se apercebem dos peões.
- Aumento do stress provocado pela situação de atendimento ou marcação de chamada telefónica, stress esse que pode ser acrescido pelo teor da conversa.
Há que ter presente que todos estes efeitos são agravados por uma elevada intensidade do tráfego, pelas más condições meteorológicas, pela complexidade das situações de trânsito e pela atenção requerida pela conversação.
Facilmente se pode concluir que embora o uso de um "kit mãos livres", permitindo manter as 2 mãos no volante, já reduz alguns riscos pela maneabilidade que possibilita, não resolve todos os problemas. O condutor deve ter presente todos os outros factores de risco e evitar o telemóvel, seja qual for a sua forma de utilização, durante o acto de condução.
Os efeitos no condutor quando da manutenção de uma conversa ao telefone enquanto está a conduzir podem ser comparados aos efeitos decorrentes de uma condução sob a influência do álcool.
Se receber ou necessitar de fazer uma chamada telefónica o condutor deve parar em local apropriado e só então utilizar o telemóvel.
Há que acrescer ainda, o perigo de eventuais danos que os telemóveis podem causar no sistema eléctrico do veículo. Como nos aviões, um telemóvel pode causar falhas técnicas nos veículos que, hoje em dia, já possuem inúmeros elementos electrónicos.
(Base legislativa: Artigo 84º do Código da Estrada)